terça-feira, 23 de junho de 2015

Ideologia de gênero?

Por Fernanda Melchionna
Tramita na Câmara de Vereadores o Plano Municipal de Educação. Dentre outros temas, em sua meta 23, trata de uma educação para a diversidade. Institui uma política voltada ao combate aos preconceitos contra mulheres, LGBTs, negros e negras. Busca a construção de uma escola inclusiva.
Com muito espanto, recebi ofício da Cúria Metropolitana que argumenta sobre uma suposta ideologia de gênero. Analisando seus argumentos, me parece que ideologia de gênero é a que eles propagam!
Não é novidade que os papéis atribuídos aos gêneros sejam historicamente construídos. Isso não significa que não há diferença entre ambos, mas utilizar-se desta diferença para manter a opressão de um gênero sobre os outros é claramente uma ideologia reacionária.
Ideologia é um reflexo distorcido das práticas sociais. .No espelho torto da ideologia de setores da igreja, o fato de existir transgêneros, transsexuais e até mesmo homossexuais, seria uma distorção. Na verdade, este espelho é que esta distorcido porque insiste em fechar os olhos para a realidade.
A realidade é concreta e manter a invisibilidade da diversidade sexual e das identidades de gênero é uma forma de reproduzir preconceitos no país em que a cada dia um LGBT é assassinado, vítima do ódio. Garantir que a escola eduque a todos, inclua ao invés de discriminar, é o que está em jogo nessa discussão. Do ponto de vista do mercado de trabalho por exemplo, 90% das travestis e transexuais trabalha na prostituição. Justamente porque, pelo preconceito, são obrigadas a abandonar a escola e não são aceitas na imensa maioria dos postos de trabalho.
Entre essa ideologia e a intolerância as fronteiras são bastante pequenas. Tudo que pareça diferente não terá lugar na sociedade. Se não se pode aceitar a diversidade, o que fazer com ela? Seria o próximo passo tentar “corrigi-la”?
Felizmente, não são todos os setores da Igreja que pensam assim. Mais do que isso, não são todas as vertentes da fé cristã. Tenho certeza que contaremos com o apoio dos religiosos e das religiosas que não militam pela intolerância neste importante debate para Porto Alegre.

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