quinta-feira, 4 de abril de 2013

Nando Reis - Entrevista


Revista Cult entrevista Nando Reis:

Como foi o processo de produção de Sei?
Gosto de gravar fora de São Paulo, porque para mim gravar um disco é um processo de imersão. É um tempo em que eu gosto de me afastar fisicamente da minha casa e das minhas atividades mais prosaicas e ordinárias, como filhos e telefonemas. É como se fosse uma viagem intergaláctica.
O Jack Endino, produtor com quem eu já trabalhei em discos dos Titãs e no meu segundo disco solo, mora em Seattle. E eu queria ter essa experiência de levar a banda pra lá, gravar no estúdio dele, de me descontextualizar para poder me recontextualizar.
Existe alguma mensagem que você quer passar com o disco?
Não trato a música com esse conceito de mensagem. A forma como as pessoas se relacionam com a música depende ou estabelece uma relação de liberdade, de interpretação.  Não há nenhum código que eu queria fixar na cabeça das pessoas. Simplesmente faço as músicas de acordo com aquilo que sinto, na forma como gosto de escrever, sobre os assuntos que gosto. Depois disso, as pessoas fazem com ela o que bem entender.
Quais foram as dificuldades em gravar um disco independente?
As facilidades que eu tinha de ter uma gravadora cuidando da parte financeira, pagando estúdio e aluguel, foram substituídas por outras. Não acho que seja muito diferente. Gravar um disco é sempre uma coisa doida e prazerosa. O que teve de mais novo foi a venda pela internet.
Estamos chegando a dez mil cópias, que é um número bastante significativo para mim porque são dez mil unidades que estão na casa, ou sei lá onde, de dez mil pessoas que querem realmente comprar. É muito mais do que o número em si, mas o fato de ter gente que se interessa e que se dispõe a estar junto comigo desta nova forma. Estou muito feliz.
Fora que é um barato ver as possibilidades de continuar a vender discos, porque é o que eu faço. Me preocupa o fato de não ter discos sendo vendidos. Eu não me refiro apenas ao disco físico, porque parece uma coisa nostálgica, mas a aquela ideia que a música tem quando colocada em um disco. A ordem das músicas, a capa. É muito mais do que simplesmente baixar a musica de que você gosta.
É por esse motivo que você não disponibiliza o download das músicas no seu site?
Eu acho que as pessoas podem baixar a música e fazer o que elas quiserem, mas que elas deem seus pulos. Defendo a ideia de que o disco é mais interessante. O que eu faço é isso, o que eu tenho para oferecer é isso. Quem quiser simplesmente uma musica, se vira.
Qual das quinze faixas é a sua preferida?
É sempre difícil dizer isso porque eu me sinto traindo as outras. É como se você me perguntasse de qual dos meus cinco filhos eu gosto mais. Mas tem uma faixa que eu amo que é a “Pré-sal”, que abre o disco. Ela é uma faixa longa, de sete minutos, em que o assunto é, aparentemente, hermético e cheio de códigos.
O título foi dado pela minha irmã, e é como se falasse aquilo que é a pré-consciência, são fatos da minha própria infância. E a música tem um tipo de furor que eu acho adequado  para musicas de abertura. Sou louco pelas musicas que abrem os discos. Acho que das musicas de abertura que já fiz, ela é a que mais me agrada.
Por que o nome Sei?
É o nome de uma música que eu adoro, ao mesmo tempo em que tem uma ideia de que é uma afirmação e é muito menos do que isso. É aquele “sei” que você diz quando está conversando com outra pessoa e acaba sendo impactado por uma quantidade de novidades, informação. Eu gosto desse nome.
Como você avalia a produção independente brasileira?
Não é porque eu gravei um disco independente que eu mudei de time. Até porque as gravadoras nunca foram minhas adversárias. Todos os discos que eu fiz com elas são muito importantes. Não é uma disputa. O que eu gosto na independência é a liberdade.
No meu caso, por exemplo, foi a liberdade conquistada de vender o meu disco. Porque eu gravei discos que não estão nem em catálogo, não são fabricados e não estão nem em lojas – na verdade, quase não há lojas para isso. Não posso ficar satisfeito enquanto há uma crise. As indústrias dizem que as pessoas não compram discos e eu pergunto, como vão comprar se os discos não são fabricados?


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