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segunda-feira, 22 de junho de 2015

Os injustiçados - A censura à música brega na Ditadura Militar

Wando
Censura à música brega na ditadura militar: quando falamos em censura na música brasileira durante a ditadura, os primeiros nomes que nos vêm à cabeça são os de artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. No entanto, um outro grupo, igualmente importante para a cultura nacional, também fora extremamente perseguido, e não apenas pelo governo, mas também pela própria sociedade: os cantores de música brega. Por serem considerados como cantores do povão, de valor desprezado por muitos críticos e historiadores musicais, pouco se fala a respeito da censura política e social que esses artistas, verdadeiros cronistas do cotidiano amoroso, sofreram durante o regime.

Um apartheid musical

Paulo César de Araújo, autor da biografia censurada de Roberto Carlos, também é o autor da obra Eu Não Sou Cachorro Não, que fala justamente sobre a censura à música brega na ditadura militar, a perseguição que os cantores de música brega sofriam durante o regime. Segundo o historiador, “A memória construída sobre o período só valorizou a resistência dos cantores da MPB. No entanto, cantores como Odair José, Nelson Ned e Wando também foram proibidos, e isso se deveu não apenas a uma censura política, mas também a uma censura moral, visto que não se podia falar de cama, de pílula, de sexo”. E foi principalmente essa a censura que os cantores bregas sofreram.
Odair José
As músicas do radinho da empregada, como eram conhecidas as canções românticas, provocavam verdadeiras revoluções comportamentais via FM. Em plena década de 1970, quando questões como o divórcio ainda eram mal vistas, quem teria coragem para falar sobre o amor de um homem por uma prostituta? Quem falaria sobre a virgindade ou sobre o adultério? Eram os cantores populares que tocavam nesses tabus e, como conta Araújo, havia um apartheid na música brasileira: a canções consideradas cafonas eram para o povão, enquanto a MPB era consumida pela classe média.
A maior parte da produção dos cantores populares dizia respeito ao amor e à sexualidade. Eram, e ainda são, cronistas do amor, escrevendo, em forma de música, sobre os dilemas, os desejos, as aventuras e desventuras do que acontece entre quatro paredes e, principalmente, dentro do coração. No entanto, apesar de falarem sobre assuntos que faziam parte da vida de qualquer pessoa, a censura à música brega na ditadura militar foi barra pesada, principalmente para Odair José.
“Odair José foi um dos cantores mais censurados da música brasileira, e não apenas da música brega”. Como conta Araújo, o cantor gostava de tocar em temas tabus, porque sabia que a sociedade precisava discutir esses assuntos, que não adiantava fechar os olhos para questões que eram importantes.
Um dos episódios mais emblemáticos de censura ao cantor é o da música Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula). Na época, então no ano de 1973, o governo brasileiro desenvolvia uma campanha de natalidade, que estimulava o uso da pílula entre os mais pobres, pois -quanta ignorância!- o Estado acreditava que o nascimento de filhos de pessoas pobres era a causa da pobreza no país. A pílula era distribuída principalmente nas periferias da região Nordeste, e a iniciativa havia sido financiada pelo Banco Mundial. “Nesse contexto, auge da ditadura Médici, quando havia cartazes espalhados dizendo ‘Tome a Pílula Com Muito Amor’, surge uma música no rádio, de sucesso estrondoso, dizendo ‘Pare de Tomar a Pilula’. A canção de Odair José foi considerada como um ato de desobediência civil e foi proibida de ser executada nas rádios, mesmo depois de já ter sido lançada”, conta Araújo.
E não foi só o governo que se opôs à canção. Apesar de ser contra o uso da pílula, a Igreja achava que a música ajudava a divulgar o uso do anticoncepcional, e também a censurou. Grupos conservadores de classe média também se opuseram, pois consideravam que esse era um assunto que não deveria ser tratado de maneira tão explícita.
“Um outro caso emblemático, também com o Odair José, é o da canção Em Qualquer Lugar que dizia ‘Em qualquer lugar a gente se ama, dentro do meu carro, embaixo do chuveiro, no jardim’. Essa canção, mesmo tendo sido gravada, não conseguiu ser inserida no disco. Apesar de ser uma letra que não tem nada de mais, para a época aquilo era uma afronta, e a censura, inclusive, escreveu: ‘A música relata um casal fazendo sexo como dois animais’. Embora Odair tenha recorrido e modificado a letra, a canção foi inteiramente proibida”.
Mas os bregas também falavam de política e, obviamente, também tinham que driblar a censura para isso. Luiz Ayrão, em 1977, lançou a canção O divórcio, que, de maneira muito inteligente, usava a metáfora da separação amorosa para falar sobre a insatisfação com o regime imposto em 1964: “Treze anos eu te aturo/ Eu não aguento mais/ Não há Cristo que suporte/ Eu não suporto mais”.

Senhora dos absurdos

A ditadura foi capaz de censuras que não tinham o menor fundamento. Waldick Soriano, cantor de boleros românticos, teve a música Tortura de amor censurada apenas por incluir a palavra “Tortura”, sendo que a letra não tinha nenhum conteúdo político, mas apenas amoroso: “Hoje que a noite está calma/ E que minh’alma esperava por ti/Apareceste afinal/Torturando este ser que te adora”. Eram tempos de rigidez, mas não se pode cometer a injustiça de imaginar que a música brega não foi atingida. Um dos gêneros musicais mais importantes do país foi censurado sim, e isso dura até os dias de hoje. Afinal, a ditadura pode ter passado, mas grande parte da sociedade ainda torce o nariz para as letras populares, para a arte de cantores cujo grande pecado é falar sem pudores sobre amor.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Toda forma de amor vale amar

Em "toda forma de amor vale amar" a jurista Maria Berenice Dias* fala sobre a imposição do casamento, a imposição de se amar um parceiro do sexo oposto e as perversidades provocadas pelo machismo e pela homofobia.


*Advogada especializada em Direito Homoafetivo, Direito das Famílias e Sucessões. Foi a primeira Desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Criou o JusMulher, serviço voluntário de atendimento jurídico e psicológico às mulheres carentes e lançou o Jornal Mulher. Concebeu o site www.direitohomoafetivo.com.br. Foi a única gaúcha indicada pelo Projeto 1.000 Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz 2005. Ganhadora do prêmio TRIP Transformadores em 2014. 


segunda-feira, 15 de junho de 2015

[Postagem do Dia] A (re)produção da lógica binária heteronormativa e a performatividade de Judith Butler

Os sujeitos, independentemente do seu sexo biológico, gênero, identidade ou orientação sexual, almejam se adequar no meio em que estão inseridos, para assim poderem viver e praticar todos os atos que lhe são permitidos em sociedade. Para tanto, há uma gama de padrões culturais impostos e já explanados anteriormente. Os sujeitos da diversidade sexual rompem com a lógica binária heteronormativa, pois eles/as estão distantes do que é normalizado e normatizado. Deste modo, a lógica de sexo, gênero, identidade e orientação sexual realmente ganha novos contornos, pois a continuidade e coerência expostas anteriormente são desconstruídas por esses sujeitos, em prol da fidelidade do que há de mais íntimo dentro de si, sendo esta a real expressão do seu ser. Então, esse padrão binário é rompido, seja pelo sexo biológico, quando se tem a presença do/a intersexual ou do/a transexual que chega à cirurgia de mudança de sexo objetivando atingir uma coerência entre sexo-corpo-gênero; seja pelo/a homossexual, que não apresenta os aspectos básicos da orientação sexual da matriz da heterossexualidade; ou pelo/a transgênero que não apresenta conformidade com as limitações de gênero impostas culturalmente, mas rompe com essa limitação.

Apesar de a lógica binária heteronormativa ser rompida em um primeiro momento, há de se ressaltar que essa mesma lógica será (re)produzida por esses sujeitos, não da forma habitual e naturalizada, mas sim no momento em que esses sujeitos da diversidade sexual incorporam – em sua expressão – características inerentes ao que já está imposto, normatizado. Por exemplo, o/a homossexual, dentro da sua relação amorosa, adota papéis preexistentes. Seja o papel do gênero masculino, seja o do gênero feminino – pois estes são seus únicos referenciais -, não existe um referencial homossexual, assim como não existe uma estrutura diversificada. O que é ensinado desde o nascimento é a reprodução de um padrão já consagrado, tanto no seu comportamento em sociedade, como no espaço privado, na relação amorosa. Isto é, em um relacionamento amoroso, a definição dos sujeitos amorosos e dos seus lugares, enquanto parceiros/as, são evidenciados a partir do seu gênero. Concomitantemente a isso, existe a necessidade de procriação, que firma o pacto sagrado entre homem e mulher em uma relação. Assim sendo, os modos de ordenar relacionamentos afetivos pautam-se nessa lógica binária heteronormativa do que é ser homem e ser mulher, da qual tratamos anteriormente. Assim, é o que a sociedade exige: uma condição binária, hierárquica e reprodutora.

Essa lógica vai muito além dos relacionamentos amorosos. Como forma de ilustrar mais um exemplo, têm-se os/as transexuais, que são a maior expressão de rompimento com o discurso totalizante de que o sexo biológico é inviolável. Contudo, no momento em que se busca adequação da sua condição psíquica ao corpo, busca-se também uma integração normalizada na sociedade, sendo o homem e a mulher os únicos modelos de sexo biológico que encontramos. Deste modo, busca-se de todas as formas desfazer-se do seu sexo de nascimento, em outra forma preexistente de adequação do corpo. Reproduz-se, novamente, a lógica binária heteronormativa.

Nos estudos contemporâneos acerca dos sujeitos sociais, pode-se observar uma gama de pessoas enquadradas em algum conceito, são eles/as: homem, mulher, intersexual, heterossexual homem, heterossexual mulher, homossexual homem, homossexual mulher, bissexual homem, bissexual mulher, transexual homem, transexual mulher, transgênero homem, transgênero mulher, travesti homem e travesti mulher, não citando outros/as que começam a ser estudados/as para enquadrar. Foram nomeados agora 15 (quinze) sujeitos classificados em estereótipos muito bem delimitados. Conceituação que cria padrões e que exclui quem não se encaixa. Os sujeitos perdem as suas particularidades como pessoas para fazerem parte de um grupo social.

Diante do contexto atual, a nomeação de sujeitos e representações, que visa mostrar a existência de identidades múltiplas é de fundamental importância para a visibilidade dos sujeitos abjetos, ou seja, daqueles/as que não se enquadram no padrão culturalmente imposto, as lutas dos movimentos sociais (pró-feminista, pró-gay, pró-lésbica, etc.) se firmam em cima dessa perspectiva como forma de mostrar que essas “dissidências” sociais existem e têm direitos a uma vida plena e de igualdade em relação àqueles/as que se encaixam ao dualismo binário: homem, masculino, heterossexual – mulher, feminina, heterossexual.

Porém, no momento em que se cria uma sigla LGBTI, cria-se uma representação, um sujeito que tem que se adaptar não mais às normas binárias, mas sim àquelas impostas aos sujeitos desse grupo, ou seja, normatiza-os, e isto, é o que se deve evitar, pois no momento em que se normatiza esse grupo, uma gama de sujeitos será excluída por não se adequarem a esse conceito abjeto. Por exemplo, antes o/a “bissexual” não estava presente na sigla da diversidade sexual (GLS), logo, eram excluídos desse contexto de luta e de direitos, como também os/as transexuais, travestis, transgênero, quando a letra T* estava em processo de desenvolvimento, e, mais recentemente, os/as intersexuais que acaba de entrar nesse rol, apesar da sua existência ser análoga com a própria existência do ser humano, porém, reiteradamente, ignorado e esquecido. Ou seja, apesar do objetivo ser a visibilidade, a sigla da diversidade sexual nomeia e cria normas de comportamento, expressão, vestuário e não se ajustar a essas normas gera um ponto de exclusão, pois da mesma forma que existe uma matriz heterossexual, sendo este motivador de normatização, visivelmente excludente, a ponto de criar essas novas identidades marginalizadas (identidades pertencentes à diversidade sexual), a matriz da diversidade sexual (compreendendo hoje os/as LGBTI) também cria uma normatização de comportamento, o que motiva o surgimento de novas identidades. Uma vez que, nem sempre o sujeito vai se sentir abarcado por esta sigla, por isso a sua mutação constante, mas antes de mudar ela exclui, deixa de proporcionar as suas conquistas a sujeitos que se vêem, conceitualmente, abandonados por esse universo ou até mesmo a exclusão por parte dos próprios membros da diversidade.

É importante observar, portanto, que a sigla, a expressão, as identidades são os objetos de luta, porém, nem sempre se apresentam como forma de inclusão. O objeto de luta, na verdade, deveria ser a pessoa, lutar pelos direitos da/o cidadã/o, independente de qual cidadã/o se fala. Pois, apesar de todos esses sujeitos estarem aglomerados em apenas uma sigla, eles/as estão separados/as, as suas lutas não são conjuntas, unitárias, os direitos adquiridos não são explorados por todos/as.

Nesse contexto, busca-se em Butler (2003) um raciocínio coerente como forma de solucionar essa classificação excludente, para tanto, adota-se a teoria do gênero performado e do gênero performático. Neste primeiro, pode-se visualizar bem o que foi trabalhado até este momento, o gênero como uma expressão externa, para o mundo, agir de acordo com determinada maneira, delimitado por papéis predefinidos, e esse agir é o que irá designar qual o seu gênero (adequando-se ao feminino ou ao masculino). Para o gênero feminino, o seu papel perante a sociedade, bem como no próprio relacionamento amoroso, será pautado num comportamento mais vulnerável, passivo, se apresenta com roupas específicas, profissões mais adequadas, expressando mais amplamente os seus sentimentos, etc. Ressaltando que essas regras são ditadas desde o nascimento quando os pais definem que se a filha for mulher o quarto será rosa e para o homem azul; quando adentra a fase criança a menina deve brincar de boneca, adestrando-a para a futura procriação, as tarefas do lar, ao homem o jogo de futebol para atestar a sua masculinidade; na adolescência e fase adulta os poderes midiáticos estabelecem os padrões de como a mulher deve se vestir para exaltar a sua feminidade para o homem, sendo afronta à “moral e aos bons costumes” frequentar determinados lugares sem a presença masculina (exemplo: bares), bem como algumas condutas (exemplo: fumar, beber em excesso, sexo antes do casamento). Inclusive até a famosa festa de “debutantes” que a família realiza, historicamente tem como objetivo apresentar a filha mulher (ao completar quinze anos) à sociedade, como disponível para o compromisso, o casamento, mostrando a transição da fase criança para a adulta, já preparada e prendada para o matrimônio. Ao homem, a sua masculinidade é questionada a todo o momento, sendo-lhe imposto a regular provação de ser “macho”, viril, de ter o poder de dominação, de ser o pólo ativo nos relacionamentos amorosos e conduzir as etapas da vida conjugal.

Já em outra perspectiva, o gênero performático se contrapõe, pois se por um lado a forma como se age consolida o ser “mulher” ou o ser “homem”, sendo esta uma realidade interna, sendo isto o que há de mais verdadeiro sobre a pessoa, por outro lado pode-se dizer que toda essa perspectiva de gênero nada mais é do que uma construção cultural, fenômeno este produzido e reproduzido até os dias atuais. Assim sendo, o gênero performático, em outras palavras, afirma que não existe gênero, os sujeitos são sujeitos, sem pertencer a definições, pois estas são apenas criações repassadas e consolidadas ao longo do tempo. Essa perspectiva começa a ser construída quando desassocia sexo, gênero e sexualidade, como um todo unitário, correlacionado. Para Salih (2012), o gênero, deste modo, ganharia independência em relação ao sexo, pois o sexo não seria fator delimitador da forma de viver e de se comportar.

Pensar que o gênero é performático e não performado é de fundamental importância para se questionar porque existem papéis de gênero tão veementes definidos e defendidos. Olhar para um sujeito sem enxergar nele um “homem” ou uma “mulher” é enxergá-lo sem a obrigatoriedade de comportamentos. Não haveria necessidade de diferenças de tratamento, disparidades salariais, imposições morais concernentes ao seu gênero, pois o único ponto que iria diferenciá-los seria a sua configuração biológica e isto não seria determinante para guiar o restante da sua vida em sociedade. Contudo, o grande problema em enxergar o gênero performático como algo possível nos dias atuais é que a própria sociedade tem uma identidade, esta foi construída baseada em discursos patriarcais-machistas e fundamentada a partir da religião e, posteriormente, com amparo das ciências. Deste modo, da mesma forma que é difícil desconstruir uma identidade pessoal, muito mais complexo é fazer isso com a identidade de uma sociedade, que se constitui a partir do que considera ser inquestionável.

Trazendo essa teoria para os sujeitos da diversidade sexual, tê-los como indivíduos sem aspectos limitadores concernentes ao sexo biológico, gênero, identidade de gênero e orientação sexual seria o mesmo que colocá-los em par de igualdades com qualquer outro sujeito que acompanha o padrão da lógica binária heteronormativa. Deste modo, os conceitos, nomes, nomenclaturas perderiam o sentido e abriria espaço para uma sociedade que governa para pessoas e não para homens ou mulheres, para gays ou lésbicas. Assim sendo, o/a intersexual, por exemplo, teria direito de ter uma vida normal e no momento apropriado poderia escolher ter um órgão sexual específico ou permanecer com os dois; o homem que sofreu violência doméstica da sua parceira ou do seu parceiro também teria a devida proteção da Lei Maria da Penha (Lei de proteção às vítimas de violência doméstica), pois, deste modo, esta legislação não mais teria como base o gênero como limitador da sua aplicação, pois o próprio conceito de gênero perderia o sentido. E os sujeitos seriam apenas sujeitos.

Contudo, ao lado desses discursos predominantes na sociedade para que se perpetue a constituição de uma identidade, existem os poderes institucionais que dia após dia atestam a suposta coerência que permeia a constituição atual da realidade social. Seja através dos meios midiáticos que impõem padrões de comportamento e o sujeito que não se encaixa é passível de sofrer uma verdadeira exclusão social; bem como o poder da igreja, que prega e induz por meio da fé o sujeito a comportamentos machistas com fundamentos deturpados; a heteronormatividade, que cria um conjunto de normas a ser respeitadas, buscando a perpetuação da família nuclear, qual seja a branca, cristã, de classe média e heterossexual, tendo todos os mecanismos basilares da sociedade a seu favor, como é o caso do Direito e da Religião. E ao passo disso, na interação social, os regramentos impostos pelos poderes institucionais, são externados em forma de preconceito, bullying, violência física e psicológica. Todos esses mecanismos que constituem o meio pelo qual o sujeito se insere, apresentam-se com práticas e discursos que mantém as disposições de gênero a serem preenchidas de acordo com cada configuração biológica.

As discussões acerca da desconstrução do sujeito apresentam-se em patamares totalmente diferentes quando comparado o campo teórico e o prático. Se na teoria a visualização dessa desconstrução abre espaço para uma realidade mais ideal e igualitária, na prática há um distanciamento. O gênero performático de Butler apesar de ser de difícil visualização prática, é também um viés importante para a busca da real efetivação dos direitos sociais de forma isonômica.

*O artigo do dia foi retirado de um capítulo do meu trabalho monográfico (Aplicação da Lei Maria da Penha para os Sujeitos LGBTI: performatividade e entidade familiar).

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Pedro Gabriel, o Antônio.

“Antônio é personagem de um romance que ainda vai ser escrito. Frequentador assíduo dos bares, ele despeja seus comentários sobre a vida, suas alegrias e tristezas, em frases e desenhos rabiscados em guardanapos em grandes doses de irreverência e pitadas de poesia”.

"Antônio sou eu, com um pouquinho mais de coragem para dizer as coisas"

Pedro Gabriel em Mossoró nesta última sexta-feira (25/04)

Na última sexta-feira (25/04/2014), o escritor, poeta e publicitário Pedro Gabriel esteve na cidade de Mossoró-RN, para um bate-papo descontraído e uma sessão de autógrafos do seu livro “Eu me chamo Antônio”, o evento foi um grande sucesso, e desde já parabenizo Larissa Gabrielle Araújo, uma das organizadoras, que com maestria conduziu mais um sucesso na sua carreira, desta vez como gerente de Marketing no West Shopping Mossoró. Durante a conversa, Pedro iniciou explicando como surgiu a ideia do guardanapo:

“Essa ideia, na verdade, nasceu no final de 2012, em outubro mais precisamente, eu tava voltando do meu trabalho, na época que eu trabalhava ainda em uma agência de conteúdo online, eu sou formado em publicidade, eu lembro que era um dia muito chuvoso, e aí no Rio de Janeiro um trajeto que faço em duas horas, acabariam em cinco de ônibus e eu tava bem estressado, e aí quando eu cheguei, desci do ônibus e aí eu parei num bar e pedi um chopp e não tinha papel pra anotar, minha cabeça não para de pensar, de... de..., as vezes as ideias brotam do nada e sempre tenho um caderno para anotar e nesse dia não tinha esse caderno, único papel que tinha era uns guardanapos no bar, no balcão do bar, então eu desenhei ali as primeiras ideias, comecei a rabiscar e aí eu gostei do resultado e resolvi fotografar, e esse foi o primeiro guardanapo que eu criei”

Ele gostou tanto da ideia que acabou jogando na rede social “tumblr” as suas obras, que com pouco tempo já ganhou uma grande repercussão, logo depois fez a sua página no facebook e mais recentemente no instagram. E, atualmente, a partir da editora Intrinseca publicou o seu livro, e toda semana (nas terças) escreve em uma coluna no site.



Há pouco mais de um ano, o blog fez a sua primeira postagem a respeito do “eu me chamo antônio”, na época a página do facebook tinha apenas 75 mil curtidas, hoje ultrapassando a faixa de 700 mil. Nesta época, o Pedro Gabriel, seu criador, ainda era uma figura que permanecia longe dos holofotes, para ele o que importa nunca foi o seu rosto, não é de relevância alguma se ele é homem ou mulher, branco ou preto, magro ou gordo, o seu intuito desde sempre foi de mostrar a sua arte de forma verdadeira, sincera e deste modo poder tocar as pessoas, enquanto for assim ele permanecerá produzindo. E, assim sendo, conseguiu invadir e cativar todo o Brasil, independente de gênero, idade ou classe social. Antônio é o personagem de todas as tribos, pois ele fala por todos, diante das suas dores, amores e dissabores.



O autor tem influências literárias como Leminski e Manuel Bandeira, na música é apaixonado por Cartola, e deixa transparecer em suas obras todos esses alicerces artísticos. E sabe o quão difícil são esses e tantos outros artistas atingirem do mais jovem leitor ao de mais idade, estamos em uma época de constante mudança, de momentos, de dias turbulentos, o mercado acelerou a vida do homem contemporâneo, mas a arte de Pedro se encaixa perfeitamente nessa realidade, ele não apenas escreve lindas poesias, elas são acompanhadas de pinturas e sonoridade o que a deixa muito mais atrativa diante do cansaço diário e o pouco tempo para a leitura, ou até mesmo o desinteresse, não precisa ser amante da poesia para se apaixonar pelos guardanapos de Pedro Gabriel, eles nos encantam, provocando o amor à primeira lida.

Redes sociais do "Eu me chamo Antônio":

Reportagem especial do Jornal de Fato: Revista de Domingo

Primeira postagem do Acompanha Café? sobre: Eu me chamo Antônio

Para os que desejam ter acesso ao áudio do bate-papo é só baixar na minha página do 4shared: Link.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

[Postagem do Dia] Ela – Her

“Apaixonar-se: Uma forma socialmente aceitável de insanidade”


Essa é uma das frases mais marcantes diante de tantas outras que estão no filme “Her” (Ela) de Spike Jonze, que conta a história de Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um escritor de cartas a mão para um site e que o faz da forma mais sensível possível. Theodore lida com um ex-casamento, conciliando sua vida com pornografia, vídeo-games e solidão, até que conhece Samantha, um sistema operacional (SO1), pelo qual se apaixona. É até estranho cogitar a ideia de um humano se apaixonando por um computador e pode até soar clichê ao comparar com a história do cinema, no qual já nos deparamos com alguns desses casos. Mas “Her” é diferente, Samantha não é apenas um sistema operacional, ela é uma verdadeira máquina de sentimentos e envolve Theodore a um universo de vulnerabilidades. O filme mostra uma sociedade rodeada de tecnologia, que no primeiro momento separa os sujeitos, e em outra tenta corrigir a falta de interação social criando mecanismos de contato, unindo, cada vez mais, o homem à máquina, e essa união é realizada com tanta excelência que em certo momento acabamos esquecendo que a relação posta não está sendo concretizada com dois humanos. Diante das crises pela qual a sociedade moderna passa, a solidão sem dúvidas é o que assola a humanidade, as pessoas esquecem como amar, como interagir, os sentimentos se atrofiam, a falta de paciência de lidar com os problemas é iminente e o ato de se apaixonar é apenas para os bravos, sendo esta a insanidade da contemporaneidade. Recheado de sentimentos profundos, “Her” é um filme triste, que retrata com perfeição o interior do sujeito contemporâneo.

Trailer: