O ROMANCE DE CONSCIÊNCIA PESADA
Os barracos entre ciência e literatura (ou física e metafísica) são quase tão velhas como a deriva dos continentes. Num dos momentos mais divertidos das chapuletadas, o cientista inglês C.P. Snow publicou um panfleto intitulado “As Duas Culturas“. A acusação: os literatos tem um piti se os cientistas não trazem Shakespeare na ponta da língua, mas acham normalíssimo ignorarem uma informação tão crucial como a Segunda Lei da Termodinâmica (entropia). O crítico literário F.R. Leavis respondeu ao libelo à letra (com trocadilho).
Nos últimos tempos, mais do que um armistício, floresceu uma promiscuidade entre os dois lados da barricada. Talvez o principal capacete azul dessa ecumênica pacificação seja a neurociência. Um escritor como Ian McEwan já dá a sensação de se ocupar mais da neurociência do que de novas personagens. Há dias, debateu horas a fio com Steven Pinker (um dos gurus na matéria), numa copiosa conversa transcrita na revista “Areté”. E Jonah Lehrer lançou uma obra cujo título jura: “Proust Was a Neuroscientist“.
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