terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Infância Clandestina


Infância Clandestina fala de uma família pertencente aos Motoneros, organização de esquerda que aderiu à luta armada nos anos 70, depois da morte do presidente Juan Domingo Perón. À frente está Juan (Teo Gutiérrez Romero), filho de 12 anos do casal formado por Daniel (César Troncoso), que mantém posto de liderança entre os Montoneros, e Charo (a atriz uruguaia Natalia Oreiro). Exilada em 1975 no Brasil e depois em Cuba, a família regressa à Argentina natal em 1979, clandestinamente, para participar na chama Operação Contraofensiva.

Matriculado numa escola de Buenos Aires, o menino passa a usar um nome falso (Ernesto) e é obrigado a dissimular a condição familiar, ao mesmo tempo que enfrenta os conflitos da pré-adolescência. Alegando ter vindo da Córdoba, cidade do interior do país, aos poucos ele se habitua ao novo ambiente, recebendo orientações de seu tio Beto, interpretado com enorme carisma por Ernesto Alterio - ele próprio um filho de exilados criado na Espanha. Diversos pontos altos são protagonizados por esse personagem afetuoso, cujo intenso amor pela vida contrasta com a ortodoxia dos pais de Juan/Ernesto. O garoto se envolve com María (Violeta Panukas), uma colega de escola, e tio Beto o socorre com dicas preciosas às vésperas de uma viagem para acampar. Utilizando-se de um confeito de amendoim achocolatado que põe na língua, Beto explica ao noviço a semelhança entre o doce e as meninas, indicando o ponto certo de "morder", após amaciá-lo. "Quando estiver em ponto de bala", ele diz a Juan, "essa é a hora certa". Com misto de ternura e humor malicioso, o personagem de Alterio possibilita ao tenso ambiente familiar certo contato com a ordem natural da vida, proibida a todos aqueles que experimentam o exílio e a clandestinidade.

É nesse jogo ambivalente, a oscilar entre as possibilidades oferecidas pela escola - os amigos, a liberdade, a paixão - e o cotidiano quase militar da família, que Juan dá os primeiros passos de sua rebelião pessoal. Apesar de, como se sabe a esta altura, não haver final feliz possível para a luta armada. Contudo, há uma nova/velha visão recuperada pelo relato do cineasta, algo entre a maciez do chocolate derretido na boca e a dureza do amendoim a ser quebrado pelos dentes: a de que é necessário endurecer, porém sem perder a ternura. Infância Clandestina é desses raros filmes que continuam a rodar na lembrança mesmo depois de a luz da sala ser acesa.

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