O dualismo do que é normal e anormal perpassa por todos os espaços sociais. A base vem de uma comparação, a partir de algo eleito como correto. Criamos o fenômeno do médio. O homem médio. A sociedade média. A classe média. É no mediano que o normal se encontra.
Naquilo que não chega a ser extraordinário, mas que também não extrapola os limites do aceitável. A família média é composta pelo homem, mulher e, preferencialmente, dois filhos (um menino e uma menina), ela será de cor média, nem preto nem branco, e pertencerá à classe média.
Tendo como base esse núcleo familiar ideal, todas as instituições de poder funcionam como mantenedoras dessa situação, que não é real, mas, absurdamente, idealista.
As mudanças no contexto familiar e social se intensificaram desde a invasão da mulher ao mercado de trabalho, na qual esse conceito de família deu lugar a diversas configurações, que até já existiam, todavia eram acobertadas pela crítica feroz do senso comum.
É necessário mencionar que a independência financeira e emocional dos parceiros amorosos não destrói a base da família, mas a reestrutura, pois a prioridade deixa de ser a manutenção de uma instituição e passa a ser a própria felicidade.
A família plural se tornou, portanto, uma realidade. Ela é aquela constituída das mais diversas formas, com avô/avó e netos/as, tios com sobrinhos/as, dois homens e um/a filho/a, duas mulheres e um/a filho/a. Inegável dizer que isso gera um espanto, uma incompreensão.
No último sábado, no programa Altas Horas, foi questionado a um garoto, filho de duas mães, quando ele realmente percebeu que tinha duas mães e se foi um choque, e ele rebateu “como foi que você percebeu que tinha um pai e uma mãe?” Para quem está submerso numa ideia de que “médio” é o correto, o que se distancia disso é anormal. Mas, as verdades são múltiplas. As famílias são plurais.
O pensamento que não pode continuar uníssono.