terça-feira, 10 de dezembro de 2013
Estatuto da Diversidade Sexual I
Conheça mais sobre o Estatuto da Diversidade Sexual por Maria Berenice Dias.
domingo, 8 de dezembro de 2013
[Postagem do Dia] O Cristianismo ataca os homossexuais?
Essa
foi uma pergunta que o meu grupo recebeu para que fosse respondido, em uma
palestra que ocorreu na quinta-feira passada (05 de dezembro de 2013) no Centro
Cultural Banco do Nordeste na cidade de Sousa/PB, guiado por Macaco, estudante
de história da UFCG, na cidade de Cajazeiras. Pois bem, unimos um pouco do entendimento de cada para que pudéssemos chegar a uma conclusão com certo grau de
compatibilidade. A priori não vimos muita dificuldade em ver que a resposta
seria “não”, afinal de contas o Cristianismo sempre pregou o amor, a
compreensão, a compaixão, totalmente o oposto da palavra “ataque”. A verdade é
que com o tempo os discursos foram modificados com o intuito de manutenção do
poder. Deste modo, atualmente, pode-se observar fácil “fieis” utilizando-se da
Palavra para condenar a homossexualidade. Assim a igreja cristã (bem como
outras religiões, essa está sendo tratada porque foi o foco da pergunta), por
meio dos seus líderes, atualmente, propaga discursos de ódio para essa
orientação sexual. Tentando ir mais a fundo, começamos a procurar resposta pra
tal atitude. A conclusão é que toda Instituição que exerce poder sobre o seu “povo”,
apresenta-se com uma cartilha de regras, de um lado o que pode e do outro o que
não pode. No momento em que os “comandantes” da igreja católica colocam a
homossexualidade no polo “mal” (da dicotomia bem e mal), vão procurar
fundamentos para que justifique tal posicionamento, fundamento este extraído da
distorção do livro sagrado. Para tanto, construindo discursos preconceituosos e
de ataque a tais práticas como: os homossexuais são depravados, os homossexuais
usam drogas, os homossexuais bebem demais, os homossexuais fazem sexo demais;
e, Deus disse que só existe amor entre homens e mulheres, Deus disse que o
homem foi feito para mulher e a mulher para o homem, o oposto disso é pecado. Pois
bem, a utilização do “pecado” e do “medo” são armas poderosas para que tais
Instituições perpetuem o seu poder sobre os seus fieis e que os mesmos
reproduzam de forma alienada os seus discursos. Ressaltando-se, contudo, que
esta não é uma visão que engloba os cristãos em sua totalidade, mas apenas
observações da prática da grande maioria. Enquanto houver necessidade de
dominação e para que essa dominação seja concretizada o meio para tal seja a
alienação, não apenas a igreja, como também os meios de comunicação, o mercado,
dentre outras formas de poder, vão se utilizar de tais discursos.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
[Postagem do Dia] Mulher: Histérica e Masoquista?
A
mulher ao longo dos séculos foi objeto de estudo. Vista, outrora, como ser
misterioso, despertou a curiosidade da classe de poder/dominação (homens) de desvendar o
que guardava em seu íntimo, motivado (na minha opinião) pelo medo de perder o
status de comandante da sociedade patriarcal. Em um primeiro momento, buscou-se
na religião cristã fundamentos para o seu posto inferiorizado, associando a
mulher ao pecado (Eva), em outro momento, contrapondo-se a esta imagem a mulher
foi associada a imagem de pureza (Maria), visão esta que não foi digerida e consolidada.
Mais para frente, outros fundamentos foram esculpidos em todas as áreas do
saber (psicanálise, medicina, história), vale mencionar que tais áreas eram
dominadas pelo sexo masculino, uma vez que a mulher só foi ter acesso ao ensino
(superior) no século X. O que se espanta é que a necessidade de se firmar em um
hierárquico superior ao da mulher tomou proporções tão grandes que invadiu e
dominou todas as áreas do saber, inclusive a ciência (considerada racional). Produzindo
e reproduzindo discursos distorcidos não apenas pelos homens, como pela própria
mulher. Enquanto o homem era tido como o ser racional, a mulher foi posta ao
longo do tempo como aquela dominada pela irracionalidade, movida a sentimentos,
incumbida simplesmente da tarefa de reproduzir “desenvolver o cérebro
significava não nutrir o útero” (trecho da tese abaixo citada). E, devido ao seu
lado (quase única e obrigatoriamente) emocional, a histeria e o masoquismo faziam
parte da sua natureza. Histérica porque o mesmo seria a forma de expressão da
sua natureza, o sentir exacerbado, degeneração psíquica “toda mulher é feita
para sentir, e sentir é quase histeria”. Masoquista, um outro traço (deturpado)
da mulher, no sentido de que a mesma ao estar em uma relação amorosa ou
constituindo uma família deixa de lado os seus desejos e se entrega àquela
situação como se a mesma fosse o centro da sua vida, sacrificando-se em todos os
aspectos para a manutenção destes: marido e filhos. Hoje, ler um breve
histórico da visão da sociedade acerca da mulher gera um espanto seguido de
revolta, o que é importante para notarmos que estes entendimentos foram
quebrados e a sociedade desperta e se renova a cada instante para uma nova
visão. Para um maior aprofundamento da tese, abaixo o link para download.
Uma
breve observação: os comentários acima tem como base a tese de doutorado da
Professora Maria da Luz Olegário intitulada “Discursos sobre gênero e amor no
espaço pedagógico do MADA: a (des) construção do sujeito amoroso”, mais
especificamente o capítulo três “Discursos sobre a afetividade feminina”.
Ressaltando que foi um resultado da reunião de hoje (04/12/2013) do Projeto de
Pesquisa “Do Público ao Privado: Discursos sobre gênero, amor e violência nas
relações homoafetivas”. Já agradecendo o debate e ressaltando que a conclusão
final dessa postagem foi extraída da interação com os colegas de Projeto.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
[Postagem do Dia] Breves Comentários
Abaixo se encontra um dos meus primeiros estudos acerca do tema "sexualidade" e "gênero", este foi um resumo expandido aprovado em um evento da UFPE, ainda em estágio embrionário fica muito restrito ao binário, porém como o desenvolvimento se faz com o tempo e estudo, estes são os primeiros passos.
VIOLÊNCIA NAS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS: A
(RE) PRODUÇÃO DA LÓGICA BINÁRIA HETEROSSEXISTA
Historicamente,
há dificuldades impostas ao que se possa entender por gênero, visto que a noção
pura e simples de “sexo” é anexada a este primeiro como termo de unívoco
entendimento. Enquanto o último está enraizado no binário, físico, estrutural,
aquele é condicionado a estereótipos, modo de viver, cultura, valores, ou seja,
determinações socioculturais; e, ao acompanhar as modificações sociais
tornou-se um desmistificador de qualquer tipo de determinismo biológico imposto
pelo “sexo” e afastando-se, cada vez mais, do seu entendimento. O ser humano e
a sua necessidade de estar socialmente inserido o leva a se enquadrar em papeis
construídos social e culturalmente. E, adequar-se a um gênero específico,
trazendo para si toda a bagagem historicamente imposta, é estar inserido em um processo
de socialização e busca de aceitação perante a sociedade. Assim, os papeis sociais
estabelecidos para homens e mulheres nada mais são do que uma invenção construída
a partir de determinados valores morais hegemônicos e relações de poder, numa
perspectiva foucaultiana, tanto nos espaços públicos quanto nos privados.
Nos
espaços privados, mais especificamente nas relações amorosas, Giddens (1993)
afirma que a subordinação da mulher ao lar se torna mais intensa bem como seu
distanciamento do mundo exterior ou público. Evidencia-se, dessa forma, a
definição dos sujeitos amorosos e de seus lugares, enquanto parceiros/as, a
partir do gênero. Os modos de ordenar relacionamentos afetivos pautam nessa
lógica binária do que é ser homem e ser mulher da qual se falou anteriormente,
inclusive no que se refere às experiências de violência. É objetivo desse
trabalho, discutir, a partir de pesquisa bibliográfica, a reprodução da
violência dos casais héteros nos relacionamentos homoafetivos legitimando a
(re) produção da lógica binária heterossexista.
DESENVOLVIMENTO
O homem, tradicionalmente, é instruído para
prover o sustento da família, geralmente sem expressar abertamente sentimentos,
cabendo a este a “administração” familiar. Das mulheres, espera-se que cuidem
da casa e são, acima de tudo, dependentes. Contudo, diante de todos os processos
modificadores que incidem na sociedade, a contemporaneidade é composta por
indivíduos que não apenas questionam tais condicionamentos, como também não se
enquadram mais neles. O que não acarreta a sua extinção, apesar de todas as
mudanças, esses papeis sociais ainda estão fincados em um tradicionalismo
exacerbado, por isso se nota tanto as disparidades que os novos têm perante os
primeiros. Hoje, é comum ter exemplos de instituições familiares em que a
mulher gera a principal fonte de sustento, enquanto o homem cuida da casa ou
até trabalha fora recebendo um salário inferior, fato inadmissível em um
passado não tão distante. Isto ocorre porque ainda não existe a visão de pessoa
como ser humano, mas sim como um ser biologicamente determinado para se
enquadrar em um padrão social. O que se volta à discussão anterior, o fato do
ser humano se identificar em um gênero específico, seja homem ou mulher, ainda
está intimamente ligado ao “sexo”. Destarte, o fato de a pessoa ser fisicamente
homem o faz agir socialmente de acordo com o que se entende do que seria o
papel do homem como gênero.
Os
papeis impostos socialmente do que é ser homem e ser mulher define todas as
formas de interação social. Em relacionamentos amorosos heteronormativos, o
homem e a mulher também têm os seus papeis pré-definidos, pautados nessa
construção tradicional de gênero. Comumente, aquele que detém o poder de
dominação é o homem, enquanto a mulher está no pólo passivo, ou seja, de
submissão. Ao lado da necessidade de procriação que firma o pacto sagrado entre
homem e mulher em uma relação, que respeita e segue fielmente a
heteronormatividade, está a representação hierarquizada do feminino
(inferiorizado) e do masculino (superiorizado). Reproduz, assim, o que a
sociedade exige: uma condição binária, hierárquica e reprodutora.
Em
uma análise básica dos contornos sociais e utilizando-se dos ensinamentos de
Jane Felipe (2007), a ideia de família nuclear está firmada desde muito tempo:
o casal branco, de classe média, cristã e heterossexual. Logo, relacionamentos
tidos como verdadeiros e legítimos, por conseguinte valorizados e almejados. O
que, por fim, resulta no casamento. Na visão do amor romântico, esta
instituição é resultado do estreitamento de um relacionamento saudável. Ou
seja, mais uma forma para reafirmar a concretização de um sentimento, passando
por todas as etapas ideais ou até mesmo pulando alguma delas sem perder a
natureza do que se deseja: namoro, noivado, casamento e filhos. A construção familiar
por meio de condutas idealmente regradas, contidas não apenas na literatura
romântica, como também nas músicas, novelas, filmes e rodas de conversas entre
amigos em que a visão futura da vida está comumente condicionada à imagem do
“príncipe encantado”.
Por
outro lado, pode-se entender que tal visão e anseio existem, em grande parte,
devido a um ideário já preexistente. Sendo esta apenas uma repetição da própria
história. Em uma visão enraizada no racional, deixando de lado os
tradicionalismos veementes, o casamento nada mais é do que uma apólice de seguro,
seja para prender o seu companheiro em um relacionamento com maior grau de
seriedade perante a sociedade, ou, para assegurar direitos jurídicos inerentes
a esta instituição. Se o que se objetiva é a primeira hipótese, o amor romântico
pode se esvair ou até mesmo não existir, transmutando um relacionamento que
deveria ser saudável em uma relação fadada à infelicidade. Neste caso, os
resultados são moralmente desastrosos, como a prática de traição, falta de
reciprocidade ou até mesmo a violência entre si, não apenas em palavras
proferidas como também em atitudes. Neste caso, praticado por aquele que está
hierarquicamente sobrepondo-se o outro, comumente o gênero masculino.
Um
dos objetivos de se adentrar em uma discussão acerca das relações de gênero é
justamente combater tais relações hierárquicas, os padrões de conduta
estabelecidos para o homem e mulher apresentam padrões pouco flexíveis. No
momento em que se discutem tais relações, discutem-se também os padrões, deste
modo, se o padrão é relação de dominação do homem em relação à mulher, então se
coloca abaixo tais regras para se ganhar novos contornos. A questão é que,
quando parte-se para a relação homoafetiva, em que os papeis deixam de lado a norma,
visto que se faz de uma relação, teoricamente, de iguais, os mesmos começam a
se enquadrar em papeis da heteronormatividade, reproduzindo em uma relação
homoafetiva os trejeitos básicos de uma relação heteroafetiva.
Tomando
como modelo o binarismo da heteronormatividade, os casais homoafetivos
polarizam as relações de gênero se insurgindo em episódios de violência.
Apesar
de todas as conquistas realizadas por meio de atividades, o preconceito ainda é
iminente, portanto, se estabelecer em uma relação homoafetiva duradoura é
motivado muito mais pelo sentimento do que pela conveniência. Não creditando
aqui a tal relacionamento, teoricamente falando, o selo de qualidade, apenas
apontando as dificuldades – homofobia, intolerância – visíveis que norteiam as
relações de conjugalidades entre parceiros do mesmo sexo. As vivências e
emoções nesses relacionamentos quase sempre forjados na experiência de amor
romântico hétero. Porque essa reprodução, incluindo práticas de violência?
A
transposição de uma “linguagem heteroerótica” para a experiência homoerótica
não se faz impunemente. Costa (1992) afirma que há uma impregnação da moral
cristã angustiando estes/as parceiros/as e que, na ausência de uma gramática
amorosa específica, os sujeitos que vivenciam relações homoafetivas se veem
obrigados a adotar, paradoxalmente, uma linguagem e comportamento de reprodução
do sexo vigente. Essa reprodução não é apenas nos vícios existentes, mas sim na
própria apropriação dos papeis sociais. Ou seja, na consolidação de uma relação
sentimental homossexual, os “sexos” mencionados inicialmente realmente são a
mulher-mulher e homem-homem, entretanto, as práticas viventes entre os gêneros
opostos são incorporados. Deste modo, em uma relação homoafetiva entre
mulheres, haverá uma delas adotando os comportamentos masculinos e a outra os
femininos, bem como na relação entre homens. Assim, as relações hierarquizadas
se tornam ainda mais problemáticas quando a violência se torna uma prática de
reafirmação de poder ou até mesmo de autoafirmação dentro de um relacionamento já
marginalizado. As partes sentem a necessidade de adquirir papeis socialmente
aceitos, enquanto toma formas de gênero opostas ao seu sexo sem ferir a
dignidade de outrem não acarretam problemas, porém, a pluralização deveria ser
justamente a solução para tais práticas. Entende-se, portanto, que as práticas
concernentes dentro de uma relação homoafetiva são apenas um espelho das
relações de gênero heteronormativas.
CONCLUSÕES PROVISÓRIAS
Para
buscar medidas que sanem ao todo (ou em parte) práticas sociais que ensejem
ofensas à dignidade do humano, é necessário que se trate como análoga as
relações tidas como diferentes. Pois, como aponta Margareth Rago (1998), no
momento em que se supera a lógica natural (binário) em uma análise de gênero,
constrói-se ao seu lado novos olhares acerca do diferente. Isso se dá, pelo
fato de que os conceitos básicos, os regramentos históricos, são frágeis diante
de uma sociedade que está em constante mudança. Não se pode colocar a venda
presente nos olhos da sociedade também no sistema normativo, uma vez que este
existe para defender o direito de todos e de forma igualitária, agradando ou
não a maioria, uma vez que não está privando ninguém aos seus direitos. Como
fazer isso? O caminho a ser percorrido necessariamente passa pela educação em
Direitos Humanos, pela discussão incessante dos papeis de gênero apontados numa
redefinição dos novos sujeitos sociais.
Em
um mundo contemporâneo com diversas manifestações de gênero, bem como
relacionamentos, o amadurecimento de tais discussões não é apenas necessário
como também urgente. Deste modo, não é justo com o humano (seja homem ou
mulher) ignorar práticas evidentemente existentes, pelo simples fato de tê-las
como inexistentes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALBINO, Viviane Rios. Diplomata. Substativo comum de dois gêneros: um estudo sobre a
presença das mulheres na diplomacia brasileira. Brasília: Fundação Alexandre de
Gusmão, 2011.
COSTA,
Jurandir Freire. A inocência e o vício:
ensaios sobre o homoerotismo. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2002.
GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas
sociedades modernas. São Paulo: UNESP, 1993.
FOUCAULT,
Michel. História da Sexualidade I: A
vontade de Saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A.
Guilhon Albuquerque. 13. ed. Rio de
Janeiro: Edições Graal, 1988.
GOUELLNER, Silvana
Vilodre; RIBEIRO, Paula Regina Costa (org.); SILVA, Méri Rosane Santos da Silva
(org.). SOUZA, Jane Felipe de (org.). SOUZA, Nádia Geisa Silveira de (org.). Corpo, gênero e sexualidade: Discutindo
Práticas Educativas. Rio Grande: Editora Furg, 2007.
RAGO, Margareth. Descobrindo historicamente o gênero. Campinas:
Cadernos Pagu, 1998.
VENTURI,
Gustavo (org.). Direitos Humanos- percepções
da opinião pública: análises de pesquisa nacional. Brasília: Secretaria de
Direitos Humanos, 2010.
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